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No Coração não há "meios-irmãos".

Atualizado: 6 de mar. de 2023

«Não é mesmo meu irmão porque é só do pai. É um meio-irmão.»



Há uns anos, uma menina triste disse-me:

«Sabes, afinal o Artur não vai ser meu irmão. É só meio-irmão. Não é meu mano como a Rita [a irmã mais velha].»

A menina (agora) triste tinha recebido há uns dias, pelo pai, a notícia de que iria ter um mano. Na altura ficou radiante. Feliz com a perspectiva de um bebé e de ser a mana mais velha [até então era a mana mais nova].

Agora partilhava a decepção da chegada de um mano que não é bem mano.


«O que é isso “meio-irmão”?» Perguntei.


«Não sei bem… mas disseram-me que não vai ser como a Rita. Não é mesmo meu irmão porque é só do pai. É um meio-irmão.»

«Acho que as coisas não funcionam bem assim…»

«É assim, sim. Disseram-me.» Insistiu.

«Huummmm... Então qual é a metade do bebé que vai ser teu irmão? A metade de cima ou a de baixo?»


Franziu as sobrancelhas, confusa.


«Ah! Se calhar não é metade assim… É a metade da esquerda ou a metade da direita? O Artur vai ser teu irmão com que metade do corpo?»


Franzindo ainda mais as sobrancelhas:

«Acho que não é assim. Ele vai ser irmão com o corpo todo.»


«Então és tu? É isso? Só vais ser irmã dele com metade do teu corpo? Qual metade? A de cima, a de baixo, a da esquerda ou a da direita?».


Sorri.

Olhou-me de lado, com meio sorriso:


«Acho que não é assim. É claro que eu vou ser irmã com o corpo todo.»

«Pois não, querida… não é assim. No coração não há meios-irmãos. No coração, os irmãos são inteiros. Quando ele nascer vais amá-lo como amas a Rita e ele vai amar-te como a Rita ama.»

A menina (novamente) contente, levantou-se do banco e, a saltitar, foi para o quarto brincar.

Passaram-se mais de cinco anos.

Confirma-se: «No coração, os irmãos são inteiros».

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