A vida acontece.
Acontece em voltas de agridoce, de áspero e suave, de lentidão e brusquidão… ora nos soa justa e generosa, quando sentimos o retorno do que demos, ora injusta e cruel, quando recebemos o que acreditamos que não merecemos.
Não acredito nessa possibilidade da vida contabilista, do deve e do haver, muito menos da vida justiceira, capaz de colocar nos devidos lugares o bem e o mal.
A vida acontece. Neutra. Impassível e indiferente à individualidade de cada um de nós; orquestrada pelo acaso, pelo ditame das leis do universo, que desesperadamente procuramos conhecer.
A vida acontece. E nós acontecemos na vida. E os outros acontecem em nós… e isso também é vida. É a vida que acontece e que nós fazemos acontecer.
E é nesta vida, em que aconteço e os outros me acontecem, que desaparece a neutralidade e a indiferença da individualidade, que nos separamos um pouquinho das leis do universo, da imposição biológica da nossa animalidade e criamos a possibilidade de ser quem somos, quem vamos sendo…
É nesse preciso lugar, onde nós acontecemos e os outros nos acontecem, que podemos fazer a contabilidade do que nos serve e preenche (para adicionar), e do que nos debilita, quebra e subtrai.
É nesse preciso lugar, que podemos olhar para o que de melhor e pior conseguimos fazer, dar e receber, doseando-os na justeza do que percebemos de nós e dos outros.
É nesse preciso lugar, em que tenho acontecido na vida e outros me têm acontecido, que me tenho descoberto para lá das fronteiras de mim.
Yorumlar