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«Isto é normal?»

mafaldaipc

Atualizado: 9 de dez. de 2024


«Vai mudar de casa e não me disse nada.»


«Tem uma pessoa há meses e só agora é que eu percebi. Não foi capaz de me contar.»


«Vai ter um bebé e foram os nossos filhos que me disseram.»


«Mudou de emprego. Não me disse nada.»


«Separou-se, os miúdos guardaram segredo até agora.»


«Isto é normal???»

É a pergunta mais frequente.


Sim, é “normal” se “normal” quiser dizer “habitual”, “comum”, “frequente”.

Não, não é “normal” se “normal” quiser dizer “isto é mesmo para ser assim”, “é a melhor forma de lidar com estas situações” ou “é a única forma”…


Então, se é frequente e habitual mas nem por isso é o melhor… o que fazer!?


Primeiro, lembra-te que se há uma pessoa indignada por a outra não a ter informado de aspectos que considera relevantes e que deveriam ser partilhados directamente entre os pais, é porque há outra que:


1) acha correcto fazer desta forma;

e, nesse caso, ou têm uma relação que permite conversar sobre o assunto e “afinarem” melhor o que cada um considera importante ser partilhado, tendo a coragem de revelar e pedir ao outro o que para si é fundamental; ou não têm uma relação que contemple este tipo diálogo e abertura, e, nesse caso, é preferível ir encarando estas situações como “informação” sobre o tipo de relação que têm e o que esperar, ou seja, é preferível ires ajustando as expectativas na relação com o outro e pensar na melhor forma de minimizar o impacto na relação que TU TENS com os teus filhos; ou

2) não sente segurança/confiança/capacidade para partilhar directa e claramente aspectos da sua vida;

neste caso, mais uma vez, a solução passa por perceber que tipo de relação têm ou querem ter (lembrando que «dois não fazem, o que um não quer»); se houver “espaço” (emocional, entenda-se!) para falar sobre o sucedido e sobre a vontade de ter uma relação/comunicação autêntica, podes perguntar à outra pessoa o que é que para ela seria importante tu fazeres/ou não fazeres para que, de uma próxima vez, seja capaz de te comunicar informação relevante; também pode ajudar, dizer, de forma clara e objectiva, o que é que consideras que é “informação relevante a ser comunicada directamente entre nós”; quem faz estas perguntas, deve preparar-se para receber as respostas, enquanto respostas/necessidades da outra pessoa e não como ataques e críticas a si (se não estiveres preparada/preparado para isso, então, é preferível ires ajustando as expectativas na relação com o outro e pensar na melhor forma de minimizar o impacto na relação que TU TENS com os teus filhos).


Quer seja por um motivo, quer seja por outro, é provável que a indignação venha de uma expectativa desadequada em relação à outra pessoa ou à natureza da vossa relação/comunicação.


Estes são dois dos aspectos abordados nas formações e que, agora, ainda serão mais aprofundados na formação dos “FUNDAMENTOS BASE”. Exactamente por serem um dos motivos de mal-estar dos filhos e de maior stress parental em pais que vivem a sua parentalidade num contexto não conjugal.

É fundamental, aprender a gerir as expectativas e a comunicar de forma adequada à pessoa com quem estamos a interagir.


Segundo (já vai longa a escrita, mas houve um primeiro e há um segundo ponto também), para além do que é que o facto de não haver uma partilha directa de informação entre os pais quer dizer sobre a sua comunicação, importa perceber o impacto que a falta de comunicação pode ter nos filhos.


Quando os filhos têm informação que sentem ou sabem que é sensível e que não foi abordada entre os pais, quem fica com a “batata quente” nas mãos são eles, ficando divididos no dilema: «digo a um, quebrando a confiança do outro. Não digo e quebro a confiança deste».

Esta é uma das sementes dos conflitos de lealdade que, se forem muito intensos e frequentes (ou, até contínuos), geram imensa angústia e perturbação nos filhos, com prejuízos reais para o seu desenvolvimento.


Também acontece não haver pedidos de “segredo” e serem os próprios filhos a reter a informação, por temerem a reação emocional do pai ou da mãe que a vai receber ou por intuírem que é uma forma de criar uma aliança com um dos pais (contando ou não contando, depende do que será valorizado pelo “aliado”). – mais sementes dos conflitos de lealdade…


«É por isso, que a outra pessoa tem que perceber que tem que me contar.»

Se ainda estás a pensar assim, sugiro que voltes aos primeiros dois pontos...



Os pais conseguirem falar seria o contexto ideal mas quando não é possível, não temos que ficar condenados, nem condenar os nossos filhos ao ditame das dificuldades individuais e/ou relacionais dos pais.


Se sabes que não podes mudar a outra pessoa (seja porque já tentaste conversar mas mantem-se inflexível, seja porque, neste momento, não sentes que tenhas recursos para empreender uma mudança profunda na vossa comunicação), a questão passa a ser:

«Como posso ajudar os meus filhos a não viverem divididos, a não se atolarem no conflito de lealdade? Como posso minimizar o impacto das dificuldades de comunicação entre os pais?».


Adequando a linguagem à idade da criança/adolescente, ao seu nível de desenvolvimento e à sua capacidade de atenção, é importante dizeres-lhe claramente que:


1) os pais (não individualizes) nem sempre conseguem conversar sobre todos os assuntos;


2) que sabes/imaginas que isso deve deixá-la/lo inseguro sobre o que pode ou não dizer (dá espaço para partilhar o que sente e pensa, não julgues, não censures, não digas que “não deve sentir/pensar assim”);


3) que da tua parte, não esperas que guarde segredos e que seja ele/ela a dar informações relevantes ou sensíveis (às vezes, os miúdos preferem ser eles a dar algumas informações, sentem mais controlo… estas situações devem ser pensadas caso a caso… se precisares, pede ajuda);


4) que, em caso de dúvida, pode sempre perguntar-te se um determinado assunto pode ou não ser partilhado com o outro progenitor e confirmar contigo se e quando vais informar o outro;


5) que, se por algum motivo, sentir necessidade de guardar uma informação relativa ao outro progenitor, que compreendes e não vais ficar zangado/a, triste com o teu filho/filha;


6) que pode sempre falar contigo sobre o que sente e pensa quando “guarda” ou partilha informação de um pai para o outro.


Alguns destes aspectos podes sentir como contraintuitivos, outros parecer-te-ão mais naturais e espontâneos. Nem o facto de sentires uma coisa, nem o de sentires a outra, diz nada sobre as tuas competências parentais, nem sobre a qualidade da relação que tens com o(s) teu(s) filho(s).


Aprender a desaprender e aprender a aprender, são das melhores aprendizagens na Parentalidade! 😊


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